Confira nosso guia completo sobre aprendizagem baseada em projetos
Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), ou Project Based Learning (PBL), é uma técnica moderna que tem ajudado instituições de ensino e professores a enfrentar de forma eficiente os desafios de gestão educacional da atualidade. Seu principal objetivo é focar nas vivências práticas dos alunos para que eles de fato que sejam os verdadeiros protagonistas durante o processo de aprendizado, com uma maior participação nos projetos da escola. Esta é uma proposta da metodologia ativa, mas você sabe à fundo como ela funciona? Vamos te contar tudo neste artigo, com um bônus especial de um case para a área de filosofia.
BNCC e as novas metodologias de ensino
As mudanças na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) levaram muitas escolas a repensarem seus planos pedagógicos e estabelecer novas metodologias de ensino/aprendizagem. Focado no conceito de competência, a nova base curricular atenta para que os estudantes devam “saber”, isto é, ter/obter conhecimentos, mas, sobretudo, devam “saber fazer”, quer dizer, desenvolver habilidades para mobilizar esses conhecimentos e aplicá-los a problema da vida cotidiana.
Diante desta condição e do próprio contexto de mudanças nas práticas pedagógicas, que já datam do início do século. XX, é que “metodologias ativas” começaram a aparecer no vocabulário recente de educadores e educadoras.
Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), uma proposta de metodologia ativa
De modo geral, essas metodologias visam estabelecer processos de aprendizagem utilizando experiências e estratégias que motivem o estudante, criando um significado naquilo que ele está estudando. Deste modo, toda prática ativa deve procurar instigar o aluno e fazer com que esse se coloque como criador da sua aprendizagem e que esta esteja vinculada a desafios sociais, a problema que façam parte do seu contexto.
Passo a passo da aprendizagem baseada em projetos
A Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP) promove múltiplas habilidades, por exemplo, da cooperação e comunicação, uma vez que estabelece o trabalho em grupo, a divisão do trabalho e o intercâmbio e exposição de ideias. O senso crítico e a criatividade são o ponto de partida do método da ABP: isto é, a formulação de uma questão norteadora complexa, e que a mesma, além de ser um problema com real significado para os alunos, lhes exija propostas de solução e não simplesmente uma resposta correta. Quer dizer, por complexa, entende-se que a pergunta/problema norteador deva requisitar a análise de duas ou mais perspectivas e sua solução não é única. Portanto, deve ser um problema interdisciplinar. A distinção entre interdisciplinar e multidisciplinar também é fundamental. Um projeto multidisciplinar procura analisar um problema sob pontos de vistas distintos. Um projeto interdisciplinar procura solucionar um problema de modos distintos.
Por exemplo, uma pergunta simples - não complexa - e multidisciplinar seria: quais as condições de desigualdade social na cidade de São Paulo? Para este problema há soluções exatas, que podem ser buscadas por meio da Geografia, da Matemática, da História ou da Sociologia.
Tomando a mesma temática, mas substituindo o problema simples por um complexo, pode-se perguntar: como podemos agir socialmente para diminuir as desigualdades em nossos contextos sociais? A pergunta permite uma série de soluções que podem ter perspectivas distintas e não contraditórias, e que demanda uma série de conhecimentos e habilidades pensados conjuntamente. A simples troca dos termos “São Paulo” por “contextos sociais” também traz o problema para mais perto da vida dos alunos e de seu real meio de atuação, fazendo com que eles vejam significado e pertinência da questão.
A apresentação da solução também pode ser vista como produto final do projeto. Deste modo, as etapas do projeto constituem-se como processos para se chegar à solução. De acordo com a divisão dos ciclos pedagógicos - bimestre, trimestre, semestre - ou de outras propostas do currículo escolar, estes projetos podem ser de breve e longa duração. O formato do produto final pode ser livre, desde que responda à questão norteadora e que sejam dados critérios quantificáveis de avaliação: por exemplo, um vídeo deve ter, no mínimo 5min, deve ser entregue o roteiro por escrito do vídeo, entre outros. Em um projeto mais longo, este último critério abre portas para aqueles professores que desejem trabalhar com a linguagem do roteiro, promovendo uma interdisciplinaridade com o cinema.
Quais são as etapas gerais para se construir um projeto?
- Formulação do problema.
Proponha diversos temas, discuta-os com o grupo promovendo debates e gerando questões. A depender do interesse e motivação dos alunos, pode-se decidir por um determinado problema gerado e, partir daí, torná-lo como questão norteadora do projeto. Duas aulas, em geral, são o suficiente.
- Pesquisa e produção.
Neste momento intermediário é quando os alunos se dividirão em tarefas de pesquisa guiadas por uma tutoria por parte do professor, que indica caminhos, adverte quanto a erros conceituais, ajuda na concepção e elaboração do produto final. É eficiente que o professor produza trilhas ou roteiros a serem cumpridos em cada aula. Assim é possível, além de quantificar as etapas de produção, impedir ou ao menos não facilitar que os alunos deixem ou acumulem o trabalho nos últimos dias.
- Apresentação do produto final.
Os alunos devem apresentar e debater o produto final com o grupo classe e, posteriormente, disponibilizados para a comunidade escolar. Divulgar os produtos é importante para promover a autoestima individual. A aprovação, por parte dos outros, sobre aquilo que fazemos, todos sabemos que possui um enorme benefício para a saúde mental de cada um, sobretudo jovens e adolescentes que possuem ainda uma constituição psicológica delicada.
Exemplo prático: ensinando filosofia pela Aprendizagem Baseada em Projetos
Como professor e pesquisador de Filosofia, deixo a seguir um projeto simples com todas as características discutidas acima:
- Tema: Filosofia e Arte
- Questão norteadora: Como a arte pode produzir crítica social?
- Interdisciplinaridade: Filosofia, História e Artes
- Período escolar: Ensino Médio
- Produto final: Série 5 de cartazes retratando problemas sociais atuais.
- Duração do projeto: 10 aulas
Aulas 1 e 2
Formulação, discussão do problema norteador e divisão dos grupos de pesquisa
Aulas 3 a 5
Os estudantes realizam pesquisas sobre as maneiras da arte ser uma ferramenta de crítica e reflexão social. Os grupos podem ser divididos de acordo com escolas artísticas ou artistas. Por exemplo, um grupo sobre dadaísmo, outro sobre o artista Bansky, outro sobre Brechte, e assim por diante. Nestas aulas, dependendo das condições da instituição de ensino, pode-se promover aulas com dois professores. É necessário lembrar de dar ênfase também às questões estéticas, que serão fundamentais para a produção dos cartazes. Para cada aula pode-se dar um roteiro, pois assim tem-se critérios claros de avaliação de processo.
Aulas 6 a 7
Os estudantes compartilham suas pesquisas em formato de seminário com alguma ferramenta de apresentação (PowerPoint, Canva, entre outros). Há critérios objetivos quanto à apresentação do seminário e da apresentação. Clareza na exposição, divisão das falas entre os integrantes, ordem do raciocínio, controle de tempo, podem ser utilizados. Ao final das apresentações, os estudantes realizam auto-avaliação sobre como colaboraram com seu grupo.
Aulas 8 e 9
Inspirados nas pesquisas de seu grupo e dos demais, os estudantes devem escolher um problema atual (social, político, ambiental, cultural, tecnológico etc.) e produzir uma série de 5 cartazes onde haja alguma reflexão/crítica sobre o problema escolhido.
Aqui, será o momento de se retomar os seminários como fonte de inspiração. Três dos cinco cartazes devem conter alguma expressão ou frase de efeito, desde que não contenha violência ou preconceito.
Aula 10
Apresentação para o grupo classe e divulgação no ambiente escolar. As séries de cartazes podem ser avaliadas por outros professores ou funcionários do colégio, permitindo uma análise menos tendenciosa.
Mas afinal, qual a história da Aprendizagem Baseada em Projetos?
Uma estratégia possível para se promover metodologias ativas e que foquem não só no conteúdo, mas também em habilidades socioemocionais, é a chamada Aprendizagem Baseada em Projeto, muito falada nos últimos tempos também. Esse tipo de abordagem já vinha sendo proposta por John Dewey (1859 - 1952), filósofo norte-americano que produziu uma vasta obra sobre educação. Dewey propõe um novo tipo de escola, diferente do modelo tradicional, onde meramente se transmite um conhecimento. O filósofo vai argumentar que, estando a escola necessariamente inserida em um contexto sócio-histórico, esta deve tratar das dificuldades que essa sociedade enfrenta, criando, deste modo, uma educação onde o nível de conscientização dos alunos sobre a realidade seja maior, permitindo ao educando atuar na tentativa de promover mudanças sociais. Por dez anos o filósofo promoveu esta metodologia, chamada de Pedagogia de Projetos, em uma escola adjunta à Universidade de Chicago. Atualmente, essa metodologia voltou com força, com muitos profissionais da educação promovendo sua divulgação, por meio de cursos, formações e outro meios e muitas instituições de ensino estão adotando essa abordagem.
Agora que você já sabe o que é a ABP e sua importância para uma instituição de ensino, que tal descobrir quais são as metodologias ativas e seus benefícios às práticas pedagógicas?